Natu 26


Espécie • Perereca (Bokermannohyla martinsi
Espécie endêmica do Brasil, ocorre no bioma Cerrado, especialmente na região sudeste do país. É vista apenas no estado de Minas Gerais, na região do Quadrilátero Ferrífero e seu estado de conservação é quase ameaçada de extinção. É facilmente encontrada em rochas próximas a matas ciliar e matas de galeria. Há estudos que relatam que a espécie é intolerante a ambientes perturbados, cuja atividade minerária é uma das principais causas de perda de área e qualidade do habitat para esses animais. A espécie possui hábitos noturnos, se alimentam de insetos, os machos costumam vocalizar de dentro da água e se mantêm próximos a rochas e troncos de árvores, os girinos são fortes e robustos. A espécie está incluída no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Répteis e Anfíbios Ameaçados de Extinção na Serra do Espinhaço (Brasil 2012).

  

Na trilha • Cuidado! Animais nas estradas e trilhas! 
Maio Amarelo tem a proposta de chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortos e feridos no trânsito em todo o mundo, certo? O mesmo cuidado precisa ser tomado por usuários e ciclistas, especialmente, dentro das Unidades de Conservação - UCs de todo Brasil. As UCs, principalmente, as de uso sustentável, possuem inúmeros atrativos para as pessoas que gostam de estar na natureza e isso não é algo negativo. Pelo contrário, o ecoturismo também ajuda na educação ambiental e conscientização de conservação da natureza, em geral. O que não pode acontecer é esquecermos que estamos no habitat natural de diversas espécies animais e algumas dessas espécies possuem gestação com longos meses e dão à luz apenas um filhote, tantas outras encontram-se com o status de conservação como vulnerável e/ou criticamente ameaçadas de extinção e as outras ainda nem foram estudadas. Por esse e vários outros motivos, precisamos ter muita atenção, diminuir a velocidade das bikes em trilhas estreitas e ter respeito pela vida da fauna silvestre cujo habitat é onde estamos apenas de passagem. Respeite a natureza! 
Entrevista • Resgate de Fauna e identificação de aves por Paula Barreto  
É bacharel e licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Tocantins, MBA em Gestão do Meio Ambiente: Mineração e Recursos Hídricos. Tem experiência em monitoramento, afugentamento e resgate de fauna e flora em empreendimentos eólicos, hidrelétricos, ferroviários, mineração e construção civil. Gestão ambiental e acompanhamento de obras com ênfase em resgate de fauna identificação do grupo das aves. 


Sempre pensou em cursar Ciências Biológicas?
Sempre quis, desde criança quando assistia documentários sobre vida selvagem na TV eu falava e apontava que queria trabalhar com animais silvestres. Mas meu pai tinha muito medo que eu pudesse trabalhar com bicho, por que sempre fui uma criança muito destemida e aí acabei fazendo meu primeiro vestibular para o curso de Jornalismo, felizmente eu não passei e hoje sigo a carreira que sempre sonhei.

Quando estava na graduação, o que fez você seguir para área de monitoramento e gestão ambiental?
Na verdade, durante a graduação me muito sentia perdida e não consegui me encaixar no único programa de estágio que me interessava (Zoologia de vertebrados), então acabei conseguindo uma bolsa na universidade estadual para trabalhar com iniciação científica e vi ali uma oportunidade de quem sabe talvez, ser uma cientista porém na área de ciências agrárias, mas por motivos pessoais tive de me afastar e não interessei mais em voltar para a área.

Como é ser bióloga nos dias atuais?
Hoje em dia as coisas estão bastante complicadas, principalmente com relação às remunerações. Quando comecei, isso há mais de 10 anos atrás, tínhamos bons salários, boas condições trabalhistas, ótimos benefícios, etc. Atualmente, são poucas as empresas que permanecem com boa remuneração e valorização profissional. Cada dia mais encontro com profissionais mega competentes e super frustrados. A gente permanece firme e forte por amor mesmo! 

Quais foram os maiores desafios que enfrentou na sua carreira até hoje?
Desafios existem todos os dias, né? Mas acredito que meu maior desafio foi iniciar na consultoria ambiental, eu demorei muito para conseguir a primeira oportunidade e quando consegui ainda duvidavam da minha capacidade profissional, mas me dediquei ao máximo e segui em frente, buscando meu melhor a cada dia.

Queira compartilhar alguma experiência que marcou o seu trabalho de resgate de fauna.
Foram muitos momentos marcantes, mas os melhores são os encontros com animais de espécies ameaçadas, é sempre uma emoção poder se sentir grato, por estar tendo aquela oportunidade de ver uma raridade de tão perto, assim foi com a Columbina cyanopsis (rolinha-do-planalto), Celeus obrieni (pica-pau-da-taboca) e Panthera onca (onça-pintada), etc.
Qual é o seu hobbie?
Gosto muito de fotografia, sempre aproveito meus trabalhos de campo para linkar com a fotografia, principalmente observação de aves, adoro fotografar passarinhos. Já fotografei mais de 500 espécies diferentes em diversos estados do país.

Como foi dar aula para o ensino fundamental? Levou um pouco do seu trabalho de campo para sala de aula?
Foi uma experiência bem diferente, mas não foi um lugar em que me encontrei. Sempre gostei de campo, estar em contato com natureza diretamente e na sala de aula não estava feliz, foi bem nos primeiros anos de formada  e ainda não tinha contato algum com a consultoria ambiental, depois que saí da sala de aula que realmente soube que ali não era meu lugar e sim em campo.

Qual é a melhor parte de trabalhar com manejo de animais silvestres?
Acho muito bacana poder conhecer os bichos de perto, conhecer sobre sua  ecologia, reprodução, alimentação, habitat, etc. A gente começa a ficar com o olho treinado e já adivinhar que tais ambientes tem a possibilidade de ocorrência de determinadas espécies e é sempre uma surpresa quando encontramos uma espécie que nunca vimos, me sinto super empolgada.
Qual é a parte mais difícil no acompanhamento de obras?
Para mim o mais complicado é ter que lidar com o ser humano. A maioria das pessoas de obra são egoístas e não pensam muito no meio ambiente afundo. Somos vistos como "ecochatos" por que estamos sempre preocupados com o bem estar dos animais e ele não entendem que isso é fundamental e faz parte do programa ambiental de acompanhamento de obras. Temos muito trabalho com a educação ambiental dos trabalhadores, às vezes funciona muito bem, mas existem outras situações que é muito complicado e assim seguimos na luta, risos.

Se tivesse que dar um conselho para quem seguir na área de consultoria, qual seria?
Como mencionei anteriormente, o início para mim não foi fácil, levei muitos "nãos" por não ter experiência, mas fui insistente e consegui minha primeira oportunidade e ali aprendi muito  Infelizmente as coisas mudaram e a política de indicação está cada vez mais forte na área, então minha dica é tentar indicações de pessoas de confiança e que já estejam na área. Além disso, sempre façam o seu melhor! Independente das condições, façam seu trabalho com amor, dedicação e muita ÉTICA, mesmo que não pareça as pessoas estão sempre nos observando e temos de usar isso a nosso favor, em algum momento o reconhecimento chegará até você, portanto persista!

Natu 26 • 12/05/2022 • Perereca (Bokermannohyla martins) • Redação • Direção: Nathália Araújo; Conteúdo: Amanda Costa; Rodrigo Viana; Thayane Silva; Fotografias: Paula Barreto.

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