Tamanduá-bandeira se alimenta de quê?

Rodrigo
 

Tamanduá-bandeira é uma espécie classificada como insetívora, pois se alimenta de insetos e os têm como principal componente da dieta, mas não único.

Quando a gente estuda animais silvestres, passa a fazer parte investigar os assuntos da biologia básica de cada espécie, o que inclui a alimentação. Ao se pensar em tamanduá-bandeira, fazer associação a insetos é muito natural, uma vez que eles se alimentam todos os dias de muitos deles, identificados como cupins e formigas. Esse comportamento alimentar é importante por ser uma maneira natural de controle populacional de invertebrados, além da renovação das colônias. De uma forma equilibrada, tamanduás-bandeira costumam fazer vários lanches ao longo do dia, uma vez que os insetos podem se afastar no interior da colônia ou se defender, quando esses mamíferos estão na busca por alimento. Então eles costumam andar por grandes áreas e visitar as muitas colônias da região onde vivem, o que permite uma recomposição natural, um equilíbrio no ambiente.

Qualquer cupim ou formiga?
Os estudos indicam que tamanduás-bandeira têm preferência alimentar por algumas espécies de insetos na natureza. Quando a gente considera cupins, os estudos mencionam principalmente espécies dos gêneros Armitermes, Nasutitermes, Neocapritermes, Orthognathotermes e Syntermes. Já para formigas é conhecido o consumo de espécies dos gêneros Camponotus, Ectatomma, Labidus, Odontomachus e Solenopsis principalmente. Ao todo são conhecidas na alimentação desses animais algo em torno de 20 espécies, entre formigas e cupins. Por isso é tão importante a saúde ambiental para continuação dessas espécies, tanto nos ciclos ecológicos e nas interações como para dietas insetívoras.

São mais de 30.000 insetos por dia?
Pode ser, vamos a uma explicação. Esse cálculo pode ser feito com base nos comportamentos alimentares deles. Tamanduás-bandeira têm uma formação muito especial, no músculo hióide, que permite uma alimentação de alta precisão e rápida, com projeção da língua em torno de 150 vezes por minuto. Isso mesmo! Se em cada lance desse for possível pegar 5 insetos, já temos uma soma interessante. Os intervalos alimentares podem durar alguns minutos, para mais ou para menos. Então, vamos considerar 4 minutos em cada rango, numa microrregião. Diante disso, vamos pensar que eles têm 10 intervalos de lanche em um dia. Assim chegamos a um total de 30.000 insetos. Claro que isso não é tão exato assim e o tempo todo desse jeito. Pode haver algumas mudanças como, menos movimentos na língua, uma colônia mais agressiva ou com menos insetos, o surgimento de um outro animal no momento que pode alterar o ritmo alimentar, o que vai variar para mais ou para menos cada parte dessa operação. Também em condições potencializadas pode ser um número até maior, a depender do apetite, tamanho do bicho, das condições da colônia e do ambiente. Por isso é uma estimativa. De toda forma, é bastante!
Para além dos insetos
Infelizmente alguns animais perdem a possibilidade de viver na natureza, em decorrência das ameaças existentes, e são direcionados a centros animais e zoológicos, onde recebem cuidados e podem vir a ajudar ações de conservação. Nesses ambientes é habitual oferecer vitaminas, que reúnem ingredientes (de ração animal a frutos), na tentativa de suprir a dieta insetívora de quantidade tão expressiva. Quando possível, alguns pedaços de colônias de insetos também são oferecidos - imagina conseguir milhares de insetos num único dia e assim por diante? Nada fácil. Mas parece que os frutos fazem parte da dieta desses animais em vida livre também. A diversidade de fezes de tamanduás-bandeiras encontrada nos estudos sugere que esses animais possam comer para além dos insetos que já sabemos - no Instituto chamamos essas cacas de biscoitos, mas esse é um outro assunto. São amostras que variam no formato e composição, entre outras características. Foi quando recebemos um vídeo gravado no Cerrado Goiano onde um tamanduá-bandeira de vida livre se alimenta, com ânimo e dedicação, de um vitaminado abacate. Da família botânica Lauraceae, essa é uma planta nativa na região neotropical, sendo Persea americana talvez a espécie mais conhecida. Essa fruta pode conter nutrientes interessantes como fibras, lipídios, gorduras e potássio em apenas alguns gramas. Na natureza, especialmente no Cerrado e biomas associados, há uma rica diversidade de frutos nativos, alguns já conhecidos pelas pessoas e utilizados como alimento, por sinal muito nutritivos. Desse modo, parece válido considerar os interesses de tamanduás-bandeira por outros tipos de alimentos naturais mundo afora. A propósito, no norte da Argentina há também registros de tamanduás se alimentando de laranjas. Ainda que o interesse da espécie por frutos seja por uma possível presença de insetos, pelo visto não existe incômodo com polpas. Contudo, os insetos seguem firmes como a iguaria predileta e necessária a esses animais tão especiais.
 

Às vezes a colônia de insetos pode não atrair tamanduás
Sabendo então do quanto tamanduás-bandeira gostam de insetos, é de se pensar que eles não perdem oportunidade de se alimentar em um formigueiro ou cupinzeiro. Mas parece que não é tão matemático assim. Durante os estudos e observação do comportamento alimentar foi possível observar um(a) tamanduá-bandeira próximo a um ninho epígeo, aqueles cupinzeiros que parecem uma montanha em miniatura. Sabe-se que os cupins e formigas criam túneis para conectar a locais de interesse. Pode ser que a colônia tenha servido alimento àquele(a) tamanduá. Isso porque eles conseguem localizar os túneis e acessar os insetos para alimentação no solo da microrregião, como foi observado nessa ocasião. Mas dessa vez ela ou ele curiosamente não foi até o ninho, sequer o farejou, mesmo passando ao lado, a alguns centímetros. Há relatos de interação em outras Unidades de Conservação, a exemplo do Parque Nacional da Serra da Canastra. Talvez o animal já tivesse suprido a alimentação daquele momento de lanche ou aquela colônia não despertou interesse.
 

Você também pode ajudar!
Um Instituto ou projeto não consegue estar em todos os lugares e em todos os momentos, por mais que se esforce, para acompanhar os animais a serem estudados. Mas felizmente muitas pessoas têm a oportunidade e a sorte de presenciar situações de interesse para o conhecimento sobre as espécies silvestres, como tamanduá-bandeira. Por isso, se você reside numa região onde esses animais ocorrem e pode contribuir com informações que tenha observado, por favor, nos envie. Pode ser por e-mail ou mensagem nas redes sociais. Até o momento já recebemos rastros, fotos, vídeos, relatos e tudo isso nos ajuda a compreender melhor tamanduás-bandeira e a natureza. 
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 LEIA MAIS  Gostou de saber mais sobre a dieta de tamanduás-bandeira? Leia também algumas referências sobre a dieta da espécie: 

BRAGA, F. G. Ecologia e comportamento de tamanduá-bandeira Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758 no município de Jaguariaíva, Paraná. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Paraná. 2010.

MEDRI, I. M.; MOURÃO, G.; HARADA, A. Y. Dieta de tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) no Pantanal da Nhecolândia, Brasil. Edentata, v. 5, p. 29-34, 2003.

WIKITERMES. https://cupim.proec.ufabc.edu.br. 2022.

Leia também sobre frutos, especialmente os do Cerrado:
FRUTOS ATRATIVOS DO CERRADO. http://www.frutosatrativosdocerrado.bio.br. 2022.

Saiba também as principais semelhanças e diferenças entre tamanduás e ursos

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