Natu 17



Espécie • Cascavel (Crotalus durissus)
Conhecida por seu famoso chocalho, as cascavéis são belas serpentes da família Viperidae, que apesar de peçonhentas e perigosas, não são agressivas e costumam fugir assim que avistadas. Elas possuem hábitos crepusculares e noturnos e podem trocar de pele até 4 vezes ao ano. Cada vez que muda de pele, um novo anel é acrescentado ao seu chocalho. Isso significa que é um mito acreditar que cada anel significa um ano de idade da serpente. As cascavéis podem chegar a 1,5 m, tem cor castanha com desenhos geométricos de cores brancas e pretas, possui a fosseta loreal localizada entre a narina e os olhos. A fosseta loreal é um órgão sensorial termorreceptor capaz de perceber as diferentes temperaturas no ambiente, isso ajuda na captura de suas presas. Sua dentição é solenóglifa (soleno = canal, gliphé = sulco), ou seja, suas presas localizadas na parte anterior da boca, se deslocam no momento do bote para a inoculação do veneno. Este por sua vez, possui ação neurotóxica, podendo causar parada cardiorrespiratória e à falência dos rins. Se alimenta de pequenos roedores e sua reprodução é vivípara podendo chegar até 25 filhotes, ocorre geralmente de setembro a fevereiro. Atualmente, há cerca de 35 espécies de cascavéis em todo o mundo, mas a única espécie encontrada no Brasil é a Crotalus durissus. Ela habita em áreas pedregosas e secas do Cerrado, regiões áridas e semi-áridas do nordeste, mas também em campos abertos das regiões norte, sudeste e sul. Os casos de envenenamentos por serpentes chegam a 29 mil por ano e o gênero Crotalus faz boa parte desses números. Importante registrar que isso pode variar dependendo da região de ocorrência (os dados podem sofrer alterações de acordo com os anos de registro e região).








Na trilha • Safáris fotográficos no Brasil 
Safári é uma expedição para observação não só de animais silvestres de grande porte, mas também para descobrir a beleza das paisagens naturais de determinada região. Engana-se quem pensa que é necessário viajar para a África para participar de um safári. O Brasil é dotado de uma rara beleza natural e de uma diversidade animal e vegetal de encher os olhos, além disso, possui duas regiões denominadas de hotspot, ou seja, com elevada biodiversidade e riquezas naturais, são os biomas do Cerrado e Mata Atlântica. Sem contar com a Amazônia, Caatinga, Pampas e Pantanal.  Somos privilegiados por tanta beleza. 

O safári fotográfico consiste em registrar essas experiências, fotografar e/ou filmar o local, os animais, as plantas e paisagens naturais. Em geral, esse passeio é feito em carros como caminhonetes abertas e adaptadas para essa atividade ou em plataformas flutuantes. Já o horário depende da atração do local. Para garantir o avistamento de grande parte dos animais, a realização da atividade é feita ao amanhecer e/ou anoitecer, pois é o horário de intensa atividade entre eles. Esse tipo de expedição pode contar com profissionais e pessoas que trabalham pela conservação das espécies e da natureza, sendo assim, é catalogada como uma atividade de educação ambiental.

E não importa sua habilidade com câmeras fotográficas, o local por si só trata de fazer com que suas fotografias sejam maravilhosas. O importante é curtir a viagem, conhecer sobre a fauna e a flora e se renovar com toda essa exuberante natureza. 

Em tempos atuais, proteja-se e respeite a vida do próximo: use máscara, mantenha distância e obedeça os protocolos de segurança de cada local.


   


Entrevista • Atuação dos Médicos Veterinários nos resgates de fauna por Lucas Magela
Bacharel em Medicina Veterinária com experiência em animais silvestres no resgate aquático e terrestre de fauna, além de acompanhamento das atividades de consultoria ambiental com supressão vegetal, resgate de melissofauna, coordenação de equipes de fauna, treinamento, assessoria, identificação com táxons, catalogação, atendimento clínico de animais silvestres e conservação para aproveitamento científico. 


Dentro da Medicina Veterinária, quando começou o seu interesse pela fauna silvestre?
A paixão pela fauna silvestre veio desde criança assistindo reportagens sobre os animais silvestres e no primeiro período da faculdade tive oportunidade de fazer o segundo curso de manejo de animais silvestres no CETAS/IBAMA, durante a faculdade fiz um pequeno estágio num projeto de animais silvestres.

Como foi o seu primeiro resgate de fauna e como pedido chegou a você?
Meu primeiro resgate de fauna foi no ano 2012, tinha 6 meses de formado, pois a atuação foi a melhor experiência de resgate, pois a hidrelétrica estava em fase de enchimento. A indicação foi uma médica veterinária que fazia residência em animais silvestres no CETAS/IBAMA e na época eu era estagiário. 

Como Médico Veterinário, quais dicas você daria a um estudante no início da carreira que deseja obter experiência para seguir na área de consultoria e resgate?
Antes de falar em dicas para os acadêmicos, eu sempre digo que existem alguns pilares que nos fazem alcançar os nossos sonhos profissionais: humildade, simplicidade, caráter e respeito. Dicas para carreira em consultoria e resgate é buscar cursos, estágios,  conhecimento técnico, networking com profissionais da área, disponibilidade para mudar de cidade, estado e enviar e-mails para as empresas que querem atuar.

Qual é o momento mais delicado de um resgate animal? O que não pode faltar, para que corra tudo bem?
Momento mais delicado de um resgate são vários, temos que conhecer bem o animal que vai ser resgatado, pois temos os mecanismos de ataque (mordidas, arranhões, peçonha, veneno e etc). O que não pode faltar nunca é o fator experiência e respeito pelo animal. 

O que considera mais emocionante: resgatar o animal da área de risco ou participar do momento em que ele é devolvido à natureza?
Os dois momentos são importantes demais, o resgate na área de risco é uma adrenalina consciente que me remente o dever comprido e a soltura do animal me transmite uma felicidade contínua de saber que está livre. 


Como foi trabalhar com Resgate aquático de Fauna na Usina Hidrelétrica em Telêmaco Borba – PR?
Foi a primeira experiência de resgate de fauna aquática, posso dizer que foi uma escola de aprendizagem em todos requisitos e onde tive a oportunidade de conhecer a realidade de um consultor ambiental, onde cresci muito com profissional médico veterinário. No resgate tive a oportunidade de aprender com os Biólogos sobre identificação, marcação e onde tive alegria de atuar no centro de triagem móvel com responsável de equipe.

Diga-nos como foi a experiência de extensão universitária no CETAS-GO.
Então a experiência extra-curricular no CETAS-GO foi maravilhosa e desafiadora, pois faltando 2 anos para me formar e tive essa oportunidade de ser voluntário não remunerado. Lembrei de muitos colegas de faculdade, eles me criticaram bastante por ser o único da turma que iria atuar com resgate de fauna e com animais silvestres. E quando consegui o estágio voluntário no CETAS-GO, novamente fui criticado por estagiar sem ganhar nada e mesmo sabendo que o curso de medicina veterinária numa teria estágio remunerado, mas eu fui guerreiro e aceitei o estágio. Mas não acabou as críticas e logo no primeiro dia de estágio fui encarregado de fazer um recinto para jabutis (Chelonia sp) de tijolos, aproximadamente carreguei uns 300 tijolos no dia e quando terminei um supervisor do IBAMA me chamou em particular e me disse que eu nunca mas iria voltar depois de ter carregado os tijolos. Essa pequena história é para mostrar que não devemos desistir dos nossos sonhos, projetos e por isso temos sim que encarar todos os desafios com humildade e sabedoria. Graças a Deus o estágio voluntário no CETAS me rendeu 490 horas em 2 anos, e foi uma das portas que fizeram alavancar na minha vida profissional com médico veterinário e depois alcancei muitas vagas na área de consultoria ambiental em diversos empreendimentos e com isso vários treinamentos, cursos e palestras na área ambiental.

De onde vem o gosto por engenharia e gestão de projetos? Isso tem alguma ligação com seus trabalhos atuais?
Nunca pensei muito em ser um empreendedor, mas depois de muitos anos prestando serviços de consultoria ambiental como médico veterinário percebi que em 2020 eu teria que fazer algo diferente no mercado de trabalho. Algo que me motivou bastante a ter minha empresa de consultoria ambiental, foi a vontade de repassar minhas experiências de campo como: coordenador técnico, técnico especializado, consultor ambiental e médico veterinário. Pois há muitos anos compartilhando as minhas experiências numa rede social "LinkedIn" e com essas publicações muitos biólogos, médicos veterinários, engenheiros florestais, engenheiros ambientais e outros. A gestão de projetos é algo que me fascina bastante, desde a faculdade sempre tive a frente de semanas acadêmicas, grupos de estudos, representante de classe e eventos, depois de formado sempre tive a facilidade de gerenciar equipes e funções específicas de trabalho.
 
Lab • Liofilização 
Você já ouviu falar em liofilização? É o simples método de retirada da água de uma amostra pelo processo de sublimação, este por sua vez, é a passagem do estado sólido para o gasoso, sem a passagem pelo estado líquido. Com isso, é possível preservar as propriedades organolépticas que podem ser classificadas como: sabor, textura, odor e forma original da amostra, assim como, a preservação da amostra ao impedir as reações enzimáticas que ocorrem com a presença da água. Dessa maneira, se reidratar essa amostra ela poderá voltar ao ‘estado normal’, sendo possível o aumento de sua validade, por exemplo. Para dar início ao processo de liofilização, é necessário que a amostra esteja congelada, pois quando combinada com baixa pressão, é possível a retirada do solvente dessa amostra por sublimação. 

O resultado será de uma amostra leve semelhante ao ‘algodão doce’. É possível utilizar esse processo na indústria alimentícia, farmacêutica, e para fins de estudo e pesquisa com a taxidermia, preservação de livros, animais, plantas, além de ossos e tecidos. Esse método é capaz de preservar o valor nutricional dos alimentos, mantendo também o sabor e textura. Na indústria farmacêutica, ele pode preservar enzimas, derivados do sangue, vacinas, soros, algas, células, vírus, fungos como as leveduras e outros microorganismos. Já a desidratação, que também é um processo de retirada de água de uma amostra, não preserva estruturas, não é possível que volte ao estado original, tem significativa alteração nas propriedades organolépticas e perda de nutrientes, enzimas, etc. 

Esse método é feito em dois passos: congelamento da amostra e encaminhamento para uma câmera de vácuo. Neste equipamento, a temperatura vai aumentando gradativamente e a pressão dos arredores é reduzida. Com isso, a água congelada passa do estado sólido sem passar pelo líquido, chamado de sublimação. Após o processo de sublimação, a amostra estará liofilizada.


Nossos resíduos • Duração dos resíduos na natureza 
A importância da reciclagem é real. É um benefício para as pessoas e para o meio ambiente, assim, também é uma maneira de conservar os recursos naturais como água, solo, ar e os minerais. Além disso, é uma oportunidade de contribuir na limpeza e organização das cidades, mais à frente pensar na diminuição da poluição visual e sonora, resíduos enviados aos lixões e a possibilidade de geração de emprego. Algo interessante a se pensar é na duração da decomposição dos resíduos na natureza, que vão de meses a milhares de anos e isso depende de cada material. Desde o papel que é mais rápido - até 6 meses, até a borracha que possui tempo de decomposição indeterminado e são dados de grande relevância para a gestão ambiental. Algo quase não falado é o filtro de cigarro, nylon e o vidro. Com o vidro, é possível construir casas residenciais ou de vegetação, com uma decomposição de cerca de 1 mil anos, é capaz de aguardar por 10 gerações de pessoas e famílias. O metal e alumínio, também podem ser utilizados em construções, vão de 100 a 200 anos para se decompor. Portanto, é válido lembrar desses dados e com isso, ajudar o meio ambiente. Repense e recicle. 



Natu 17 • 20/08/2021 Cascavel (Crotalus durissus) • Redação • Direção: Nathália Araújo; Conteúdo: Amanda Costa; Rodrigo Viana; Fotografias: Feliphe Novais; Lucas Magela; Paulo Dantas.

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Comentários

Unknown disse…
Parabéns muito boa entrevista.
Instituto Jurumi disse…
Agradecemos! Continue acompanhando a Natu e outros materiais sobre natureza!
Unknown disse…
A revista ficou muito bonita. Belas fotos. Parabéns pelo trabalho de vocês.
Instituto Jurumi disse…
Agradecemos! Continue vendo a Natu e materiais sobre natureza!

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