As ameaças e a extinção!

Rodrigo Viana / Fotografias Acervo Instituto Jurumi - Marcelo Calazans


Mudanças nas regras sobre PANs para conservação das espécies ameaçadas de extinção no Brasil tornam o nosso país menor em relação aos cuidados com a natureza. 

Alteração publicada esse mês pelo ICMBio alterou regras para o planejamento e execução dos Planos de Ação Nacional (PAN) para conservação e manejo das espécies ameaçadas de extinção no Brasil. Na prática, os ajustes concentram as decisões no ICMBio e diminuem a participação de organizações da sociedade civil e universidades nas atividades, como relatado no site O Eco.

Um PAN é um processo responsável por mapear as espécies ameaçadas e traçar as estratégias para garantir sua conservação. Existe PAN por espécie ou por ecossistemas, por exemplo. Dessa maneira, esses planos ajudam a organizar e realizar atividades a favor de espécies ou regiões sob fortes ameaças de desaparecimento, que podem levar à extinção. São organizados de forma colaborativa, multidisciplinar, com revisões e participações, sendo portanto uma política pública muito importante para o desenvolvimento sustentável do país.     

Por que a ameaça de extinção afeta as nossas vidas?
Primeiro porque o desaparecimento de espécies retrata a alteração feita em nosso ambiente. A natureza que vemos hoje em dia, levou muito tempo para construir as espécies e as relações ecológicas, o que continua acontecendo e enriquece essas áreas. Então ter uma espécie extinta, mesmo que localmente, provoca um apagão. Ou seja, tudo que ela fazia antes passa a não acontecer mais como antes, tendo em vista as relações diretas e indiretas que havia na região, seja em escala local ou regional. Assim a nossa sociedade fica mais pobre porque aquelas interações ecológicas não existem mais.  

Segundo porque com eventos de extinção perdemos oportunidade de conhecer, documentar e estudar espécies que vivem nos mesmos locais onde vivem as espécies que conhecemos mais (chamamos de espécies-bandeira - porque ajudam a sinalizar e atrair pessoas). Essas espécies chamam mais atenção e grande parte delas está contemplada nesses planos. Ao proteger essas espécies, protegemos outras tantas na região, com potencial para estudos técnicos, educativos e biotecnológicos (por isso também são chamadas de espécies guarda-chuva - ajudam a proteger outras). Desse modo, o conhecimento técnico percebido e organizado ao longo do tempo é tão importante para entender e ajudar em ações de conservação.

Terceiro porque além de ter apagões de biodiversidade e da perda de potenciais, essas alterações que levam à extinção nos chamam ao alerta sobre a nossa própria existência. A que ponto as alterações provocadas, os recursos acabados, a poluição aumentada podem afetar a saúde do ambiente e por consequência, as nossas vidas? As atividades que levam à extinção de espécies também provocam surgimento ou aumento de doenças (a exemplo dos desmatamentos), prejuízos financeiros (em atropelamentos de animais, por exemplo) e mais custos na saúde pública (como em problemas respiratórios impulsionados por incêndios florestais). Entender o que acontece com essas espécies pode acontecer com apoio das diretrizes apontadas nesses planos e por fim ajudar as pessoas na conquista de um ambiente mais saudável.   

Tamanduá-bandeira é uma das espécies que tem PAN. Fotografia Marcelo Calazans.

Ao ter planos participativos, a sociedade tem documentos mais enriquecidos e completos, então maior chance de sucesso e revisões mais acertadas. São documentos importantes para dar orientações aos trabalhos, pois as questões relacionadas ao desaparecimento de animais, plantas, fungos e outros seres vivos continuam acontecendo.

Apesar da importante existência desses planos, ainda falta um tanto para que mais pessoas saibam deles, para que todas as pessoas possam realmente participar no cuidado dessas atividades, que as informações realmente cheguem à população e que não fiquem retidas a grupos menores. A alteração das regras não altera as questões emergentes. A ameaça às espécies, aos ecossistemas continuam e por isso, a nós também. 

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