Por que estudar populações animais?

Francisco Célio de Souza Júnior


Don’t worry be Capy
Por que estudar populações animais?

Na ecologia animal o monitoramento de populações desempenha um papel importante e auxilia na conservação da vida selvagem. Em estudos populacionais é preciso ter em mente que a população é uma entidade em mudança e que possui estruturas e funções bem definidas, e considerar que fatores extrínsecos (relacionados ao ambiente) e intrínsecos (relacionados a espécie) podem causar mudanças no tamanho de uma população. Tendo uma compreensão dos fatores que influenciam ou alteram a estrutura, demografia e a dinâmica populacional são possíveis sustentar a conservação e o manejo eficaz da espécie. O manejo da fauna silvestre se tornou importante para espécies que apresentam superpopulação e pode ser implantado tanto dentro como fora das áreas protegidas. Porém, para isso é preciso que haja estudos científicos que realizem o monitoramento periódico da espécie, para acompanhar o comportamento, a estrutura e a dinâmica populacional, permitindo determinar as condições de sobrevivência e as perspectivas futuras das populações.

A Capivara
A capivara atualmente é o maior roedor do mundo e pode atingir mais de 1 m de comprimento, chegar a até 0,60 cm de altura e pesar até 100 kg. Essa espécie apresenta comportamentos bastante típicos, com padrões sociais rígidos, e apresentam importância tanto econômica quanto social. Pode ser encontrada em quase toda a América do Sul e no Brasil ocorre em todos os estados, inclusive aqui no Distrito Federal. Sua alimentação se baseia principalmente de grama e de vegetação aquática, porém possui uma alimentação bastante generalista podendo se alimentar, por exemplo, de milho, causando conflito com donos de plantações. É um animal com hábitos semiaquáticos e são ótimos nadadores, podendo permanecer submersos por um longo tempo. As capivaras utilizam a água para regular a temperatura, se reproduzirem e principalmente para fugirem quando se sentem ameaçadas.

Os grupos de capivaras são geralmente formados por um macho dominante, um ou dois machos submissos, as fêmeas, que podem variar de duas a várias fêmeas, e os jovens. São animais territorialistas e os membros dos grupos rejeitam ativamente intrusos, especialmente fêmeas. Esse animal pode se reproduzir durante todo o ano e as fêmeas geralmente entram no período reprodutivo de forma sincronizada, com a maioria delas tendo filhotes dentro de um período de 2 semanas. Dependendo das condições do ambiente podem ter até duas ninhadas por ano, com um período de gestação de 5 meses e podendo ter de 1 a 8 filhotes. Um dos fatores que contribuem para a rápida proliferação dessa espécie se encontra no fato das fêmeas se encontrarem ativas sexualmente 15 dias após darem à luz.

Graças ao reduzido número de áreas naturais devido ao crescimento dos centros urbanos tem sido cada vez mais comum o convívio entre a vida selvagem e os seres humanos. Em ambientes com uma influência antrópica, como nos centros urbanos, as capivaras podem sobreviver, mostrando assim que essa espécie possui uma excelente adaptação a ambientes alterados. No Brasil a capivara também é considerada uma praga de diversas culturas e frequentemente danos causados por capivaras são relatados. Essa espécie também possui uma importância do ponto de vista da saúde pública, por relacionarem ela, de forma exagerada, a transmissão da febre maculosa causada por uma bactéria encontrada no carrapato-estrela o qual a capivara pode ser um dos hospedeiros primários.


Por que estudar capivaras?
As capivaras por apresentarem um curto período de gestação e se adaptarem facilmente a vários tipos de habitats podem acabar crescendo de forma rápida e descontrolada. Esse descontrole pode acabar facilitando a disseminação de doenças, a invasão desse roedor em áreas privadas como quintais de casa e terrenos, o ataque a lixeiras públicas em busca de alimento e acidentes automobilísticos causados pelo trânsito das capivaras em vias urbanas. Esse tipo de conflito em áreas urbanas pode afetar um grande número de pessoas, o que torna difícil obter um acordo sobre as formas aceitáveis de manejo da espécie e mostra a importância dos estudos populacionais principalmente em espécies como essa.

Porém verificou-se que estudos populacionais focados nesta espécie são escassos aqui no Distrito Federal e tendo em mente todos esses fatores pensou-se em um projeto onde fossem estudadas as populações de capivaras daqui, porém um estudo assim levaria tempo, então como projeto de TCC foi feito um estudo com uma população de capivaras encontrada no Jardim Zoológico de Brasília com o objetivo de analisar e comparar a estrutura de grupos da espécie. Durante o estudo verificou-se que não existia uma diferença considerável entre a estrutura etária e a razão sexual entre os grupos. Compreendeu-se que não era possível afirmar que a estrutura social dos grupos era estável. Para isso é preciso que haja o acompanhamento periódico da espécie observando as suas variações quanto ao número e estrutura no tempo para saber se a população de capivaras está realmente estável, em crescimento ou até mesmo em declínio. Também se faz necessário observar a influência de fatores como a sazonalidade do ambiente, a proporção de machos flutuadores (machos que ficam ao redor dos grupos, mas não pertencem a nenhum em especifico), a dispersão e a filopatria que podem contribuir para as mudanças no comportamento social das capivaras.



Estudos no Distrito Federal
Vale ressaltar que a fauna e a flora do Cerrado estão intimamente ligadas, sendo o Distrito Federal uma das áreas de Cerrado mais bem estudadas, no qual cerca de 113 espécies de mamíferos podem ser encontradas em seu entorno. Essa rica biodiversidade do Distrito Federal, porém, sofre com as ações humanas, além da degradação ambiental. A capivara é um animal que, como dito anteriormente, se aclimata bem a ambientes antropizados, porém estudos populacionais desta espécie ainda são escassos aqui no DF. Alguns locais no Distrito Federal, como o Lago Paranoá, apresentam poucos fragmentos florestais dentro dos centros urbanos que fazem parte de uma Unidade de Conservação. Esses fragmentos dentro dos centros urbanos aumentam o contato dos Seres Humanos com as espécies selvagens como as capivaras, o que aumenta também cada vez mais os relatos por parte das mídias da presença desses animais dentro das cidades.

Infelizmente, em ambientes urbanos elas acabam por serem consideradas pragas, devido as suas possíveis superpopulações e também por serem erroneamente associadas como causadoras de doenças ao homem. Recentemente foi divulgada uma pesquisa que pretende apurar a situação das capivaras no Lago Paranoá. A pesquisa tem como objetivo segundo a SEMA-DF “estimar, por meio de censos e avaliação da qualidade do habitat, a variação do número de capivaras e condições gerais de vida, para subsidiar políticas públicas e reduzir conflitos com a população humana. Para tanto, a pesquisa terá foco especial na divulgação de informações e resultados de campanhas de educação ambiental”. A pesquisa terá duração de um ano. Esse é um importante passo para uma boa convivência que depende de uma boa resolução de conflitos existentes, onde os pesquisadores tentam redirecionar a pesquisa na busca de caminhos para a coexistência entre humanos e a vida selvagem.

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