Natu 37


Espécie • Borboleta-maracujá (Agraulis vanillae) 
Da Família Nymphalidae é conhecida como lagarta-do-maracujazeiro ou borboleta-maracujá-silvestre. Essa espécie ocorre do sul dos EUA até o norte do Uruguai e da Argentina. Ela tem uma envergadura de 6 a 7 cm, cor alaranjada com manchas pretas na parte de cima das asas e na parte inferior tem manchas prateadas. Essas borboletas colocam ovos sobre as folhas do maracujazeiro. As larvas eclodem depois de 3 dias e as lagartas devoram as folhas, por isso é considerada praga do maracujazeiro. Geralmente as borboletas fêmeas visitam as flores para se alimentar do néctar e os machos procuram líquido em areias úmidas. Essa borboleta pode viver até 8 meses, na fase adulta.

As borboletas possuem importância médica, econômica e ecológica em todas as fases de sua vida, servem de alimento para outros animais e podem sofrer parasitismo. São sensíveis às mudanças climáticas, portanto, se encontrar uma área ou jardim repleto de borboletas significa qualidade ambiental. Algumas espécies desse grupo possuem mecanismos de defesa bastante eficazes contra predação, como substâncias urticantes. Gostam de dormir em lugares calmos e, em geral, voltam sempre ao mesmo local para descansar. 

Contém texto adaptado do Horto Botânico do Museu Nacional – UFRJ.





Na trilha • interação biológica!  
As trilhas na natureza estão muito associadas ao verde das plantas, qualidade de ar e muita beleza. Em meio a vegetação também é possível observar alguns animais. Muitos deles estão em interação com as plantas, seja para descanso, alimentação, contato com outros indivíduos. Esse contato é importante tanto para as plantas como para os animais. Para as plantas existe a possibilidade de dispersão de pólen e de sementes, além da renovação de brotos, a depender da espécie animal. De insetos a mamíferos, a possibilidade de observar esses animais com as plantas é muito interessante. São instantes que podemos nos conectar com as interações da natureza e vivenciar momentos muito especiais. As interações entre animais e plantas são muito estudadas na Ecologia, em cursos e programas, o que permite conhecimento e atualizações. 

Ao trilhar você pode encontrar uma interação assim e pode seguir alguns cuidados:
- São momentos breves, às vezes alguns segundos.  
- Observe com atenção sem interromper a atividade.
- Não interfira na interação e aproveite com cuidado. 

Observe as interações biológicas e boa trilha!

Entrevista • Natureza, espécies e vivências por Débora Tomiatti
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Bacharela e licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), campus de Rio Claro. Possui experiência nas áreas de biologia da conservação e ecologia, atuando principalmente nos seguintes temas: o efeito do desmatamento e fragmentação florestal no incremento de biomassa de espécies arbóreas que mais acumulam carbono no bioma amazônico. Ela participou do Programa de Intercâmbio e também do Programa de Estágio do Instituto Jurumi.



Por que você escolheu Ciências Biológicas?
Desde muito nova tive interesse em observar as interações dos animais com as plantas e estar em contato com a natureza. Na época, achava que isso significava ser veterinária, mas mais tarde descobri que poderia estudar todas as formas de vida em um curso de Ciências Biológicas. Ingressei na universidade buscando trabalhar com conservação de espécies ameaçadas, e meus projetos continuam, de alguma forma, conversando com essa temática até hoje.

Você tem experiência na Mata Atlântica e atualmente está no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Conte pra gente semelhanças e diferenças encontradas por você entre esses dois biomas. 
Há muitas formas de contar isso, mas escolhi falar dos detalhes que me despertaram os sentidos nas florestas da Amazônia e me fizeram às vezes diferenciar e outras me aproximar das experiências que tive estudando a Mata Atlântica. Essas diferenças e semelhanças começaram a aparecer na minha frente ainda na janela do avião a caminho de Manaus. O dossel contínuo da floresta, aquele tapete verde, era algo que eu conhecia pela Mata Atlântica ao trabalhar em extensas florestas contínuas, mas a escala mudou já sobrevoando a Amazônia. Os tapetes se estendiam por quilômetros a perder de vista, rasgados e trançados pelos cursos dos rios. Ainda nessa diferença pude encontrar semelhanças na forma como esses contínuos são recortados pela fragmentação florestal, na Amazônia ao sobrevoar as áreas de desmatamento mais intenso, e na Mata Atlântica por adentrar e aos fragmentos formados pelos pastos.

Você pode relatar alguns de seus encontros com espécies na natureza?
Vou relatar um encontro em cada um desses dois biomas. O primeiro se deu quando trabalhei com o mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus). Naquele dia estávamos localizando os animais por radiotelemetria. Muitos bips do aparelho e metros percorridos quando ouvi a vocalização do grupo anunciando nossa aproximação. Minutos depois, bolas de pêlos pretas com uma pelagem nas pernas que se assemelham a calças-cáqui e uma longa cauda apareceram saltando os galhos altos à nossa frente. Quase não tive tempo de apreciar o encontro e já estava apertando o passo para não perdê-los de vista. O mico-leão-preto é uma das espécies mais raras e ameaçadas de primatas. Suas populações se encontram desconectadas devido ao alto índice de fragmentação. Atualmente, o Instituto IPÊ têm realizado pesquisas e ações essenciais para a conservação da espécie, vale a pena conferir o trabalho deles!

Outro encontro inesquecível foi na minha primeira saída de campo na Amazônia com uma espécie de palmeira, a Astrocaryum murumuru. A posição em que ela está te obriga a desviar a trilha para não acabar se ferindo com alguns dos muitos espinhos que a recobrem e chegam a ter o mesmo comprimento da palma da sua mão. Tão impressionante quanto o seu tamanho, a disposição das folhas “descabeladas” e seus espinhos é a sua história evolutiva. Parece que esses grandes espinhos têm relação com a proteção à herbívora na época em que grandes mamíferos habitaram a Amazônia há alguns séculos atrás, como as preguiças-gigantes que chegavam a até 6 metros de altura. As preguiças-gigantes foram extintas, mas os espinhos da Murumuru permanecem e nos fazem recordar um passado difícil de imaginar.
Pode destacar os efeitos da fragmentação florestal na diversidade de espécies arbóreas?
A fragmentação florestal tem geralmente um impacto negativo na diversidade de espécies arbóreas, uma vez que a redução da área florestal e o isolamento dos fragmentos afetam a dispersão e a sobrevivência das espécies. Além disso, o efeito da borda desse fragmento também é um fator que contribui para essa diminuição, uma vez que aumenta a mortalidade de árvores. A intensidade dessa perda de diversidade varia de acordo com alguns fatores, como a natureza da paisagem ao redor do fragmento e a capacidade de resistência e recuperação da floresta afetada pela fragmentação.
Como está a sua atuação no tema Clima?
Atualmente a minha dissertação em desenvolvimento explora essa temática a partir do entendimento de como o efeito da fragmentação de florestas tem afetado o crescimento de árvores, ou seja, também o acúmulo de carbono por espécies arbóreas responsáveis por armazenar grande parte desse componente estocado no bioma. Sabe-se que o carbono liberado na atmosfera tem relação direta com as alterações do clima observadas e projetadas, portanto é importante compreender como o desmatamento, as queimadas e secas observadas impactam o balanço de carbono para além da perda de árvores, mas olhando também para as alterações em seu crescimento.

Atualmente a Mudança Climática é destaque na política pública de estado no Brasil. Por que isso é importante e quais pontos de atenção que precisamos ter?
O Brasil tem potencial para ser referência no assunto e nas ações de combate e mitigação das mudanças climáticas. Acredito que precisamos nos atentar para a cobrança e aplicação de políticas públicas que garantem a fiscalização e proteção eficaz das florestas e rios, o planejamento e execução de medidas de recuperação de áreas degradadas, o investimento em cadeias produtivas sustentáveis, garantia dos direitos dos povos originários e incentivo à pesquisa científica. Destaco a importância da tomada de medidas de acordo com as especificidades históricas, culturais e ecológicas de cada região, uma vez que um único modelo de mitigação das mudanças globais não contemplaria a diversidade do Brasil.


Atuar com meio ambiente é estar entre belezas, momentos especiais e também tristezas, frustrações. Em seus relatos durante o Intercâmbio, você compartilhou situações de força e resiliência. Quais considerações você gostaria de registrar a esse respeito, com base em suas próprias experiências, para quem ainda só percebe beleza na área.
Atuar na área ambiental pode oferecer oportunidades de contato com ambientes florestais enriquecedoras, mas também traz desafios. Ao trabalhar nessa área, é inevitável deparar-se com situações frustrantes, como o descaso governamental em relação à destruição dos ecossistemas e a falta de engajamento da sociedade em questões ambientais, muitas vezes alimentada pela disseminação da anticiência. É importante destacar que a beleza da natureza é uma das muitas razões de porque devemos rever a nossa relação com ela, mas a sua importância vai muito além disso.
É natural • Ecdise ou Muda
Processo de Ecdise ou Muda: ecdise (do grego ekdysis = desvestir-se, escapar). Deposição da camada externa cuticular; a muda dos insetos e crustáceos. Muda: perda da camada cuticular externa; A muda, é um processo fisiológico de elaborar uma cutícula maior do que a anterior, e a ecdise é o descarte da cutícula. Esses processos são necessários para o crescimento do corpo, pois o exoesqueleto não é vivo e não acompanha o crescimento do animal. É basicamente uma troca de pele, por outra.

Existe um controle hormonal do ciclo de muda, e esse ciclo é iniciado por estímulo ambiental percebido pelo sistema nervoso central, mesmo que a ecdise seja controlada por hormônios. Os estímulos podem incluir temperatura, comprimento do dia ou uma combinação de outros sinais ambientais. 

O processo pode ser dividido em até 4 partes: 1.Pró-ecdise, na qual o animal se prepara para libertar o exoesqueleto, substituindo-o por outro. Nessa fase, o corpo do animal retém água e ar, o que facilita a sua sustentação durante a troca e exerce uma pressão que ajuda no rompimento do exoesqueleto que será deixado para trás.) 2. Ecdise, na qual acontece a troca do exoesqueleto; 3. Pós-ecdise, nessa parte o animal em questão aumenta de tamanho e tem seu novo exoesqueleto fixado; 4. Intermuda, quando o animal armazena nutrientes para se preparar para o recomeço de todo o ciclo. O crescimento efetivo do animal ocorre nessa fase. Alguns dos Filos Animais que sofrem esse processo são: Arthropoda, Nematoda e Tardigrada.

Natu 37 • 14/04/2023 • Borboleta-maracujá • Redação • Direção: Rodrigo Viana; Conteúdo: Henrique Alexandre, Lívia Malatrasi, Rebeka Câmara; Fotografias: Débora Tomiatti (Arquivo pessoal), Vinícius Coelho, Vinícius Souza.

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