Natu 29

Espécie • Arara-canindé (Ara ararauna)  
Conhecida popularmente como arara-de-barriga-amarela, essa astuta ave da família Psittacidae é uma das mais belas aves que a natureza possui. De cores inconfundíveis, a arara-canindé, chamada na Língua Inglesa de The blue-and-yellow macaw, possui uma coloração de azul marinho no dorso e amarelo ouro na parte inferior. Mede cerca de 80 centímetros, por isso é considerada uma ave de porte grande. Sua distribuição geográfica vai desde a América Central até a América do Sul. No Brasil, ela ocorre desde a Amazônia até o Paraná, mas preferem ficar nas copas de florestas, como em matas de galeria, várzeas com buritizais, como o buriti (Mauritia flexuosa) e/ou babaçuais, no interior e/ou nas bordas de florestas altas com cerca de 500 metros de altitude. Há inúmeros relatos da passagem dessas aves nas cidades, sendo também conhecido como um fenômeno de araras-urbanas. As araras-canindés podem viver em pares, trios ou bandos com muitos indivíduos. Constroem seus ninhos entre dezembro e maio em troncos de grandes palmeiras mortas a cerca de 25 metros do chão, pondo dois ou três ovos que nascem em aproximadamente 26 dias. Sua alimentação é baseada em frutos e sementes. Essas aves têm o hábito de percorrer longas distâncias para se alimentar e descansar. Segundo a União Internacional de Conservação da Natureza - IUCN, seu estado de conservação é pouco preocupante, no entanto, sua população encontra-se em declínio devido às pressões antrópicas. 


Na trilha • Liquens nas árvores, o que são e o que significam? 
Se você gosta de observar a vegetação e os belos troncos das árvores das florestas, certamente já se deparou com uma “mancha de cor acinzentada, amarelada, esverdeada ou avermelhada, às vezes folhoso ou só aquela crosta grudada”. Esses são os liquens, organismos biológicos que constituem uma associação simbiótica entre fungos e algas. As algas são as responsáveis, além de fornecer energia e ajudar no fator fotobionte, por dar a coloração a esses organismos. As principais algas envolvidas nesta simbiose são as verdes e as cianos. Os liquens são encontrados em diversas regiões e considerados organismos pioneiros, sendo capazes de aturar estresse ecológico, embora sejam sensíveis à poluição atmosférica. São cerca de 20 mil espécies que variam em tipo, habitat e tamanho. Por ser sensível à poluição, esse fator o faz ser um bioindicador da qualidade do ar. Por isso, é tão comum encontrá-los em parques arborizados, florestas, longe ou próximos a cidades e até em grandes centros urbanos. A título de curiosidade e informação, no total são três tipos de liquens: os foliosos, crostosos e fruticosos, sendo mais comuns os dois primeiros. Em sua reprodução, não há troca de material genético. Os esporos ou pedaços são transportados pela chuva ou vento e ao encontrar um local com condições favoráveis começam a germinar. Os liquens podem habitar tanto os troncos das árvores, folhas e superfície de rochas úmidas. Além de bioindicadores, possuem papel beneficiador do solo, produzem ácidos orgânicos, ajudam a decompor rochas e produzem sais minerais. 

Observe e boa trilha!

Entrevista • Natureza, gestão ambiental e complexos eólicos por Aziz Militão
Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Potiguar (2019), com ênfase em estudos ambientais, monitoramento de Herpetofauna, pós graduando em Avaliação de impactos ambientais e Processos de Licenciamento Ambiental, experiência em gestão ambiental, produção de relatórios, liderança de equipes, e piloto de drone em desenvolvimento. Atualmente exerce a função de membro fundador da Sociedade Brasileira de Kinguios (SBK).


Quando era criança, gostava de brincar na natureza?
Muito cedo fui apresentado a mata, minha família sempre gostou de passear em rios e lagoas nos dias quentes, com isso desde muito novo fui acostumado a estar em meio à natureza. Porém com 10 anos essa experiência se intensificou quando ingressei para o Movimento Escoteiro, onde acampávamos com frequência em meio a Floresta Amazônica em barracas e abrigos. Essa experiência me aproximou muito mais da natureza como um todo, me fazendo sentir em casa em meio à mata. 
 
Qual motivo te fez escolher Biologia?
Na época morando em Rondônia e em meio ao auge da construção civil das usinas hidrelétricas de Santo Antônia e Jirau, acompanhei os desastres decorrentes da inundação de algumas cidades e o isolamento do Acre com a cheia causada pelas barragens, além de presenciar os impactos causados com uma construção desse nível. Isso me despertou uma vontade de participar do processo e tentar mitigar os danos, ao mesmo tempo estava apaixonado pela engenharia envolvida na construção de uma hidrelétrica e preocupado com os danos ambientais causados. Isso fez com que eu optasse por estudar biologia e me aprofundar no ramo das energias. 
O que te motiva a continuar?
Mesmo Ciências Biológicas sendo um curso antigo no Brasil, ainda me sinto como um pioneiro. A energia renovável é uma realidade muito recente para nosso povo, com isso ainda existem muitos processos a serem desenvolvidos, me sinto extremamente feliz em poder participar hoje de obras gigantes como as que me inspiraram a começar no passado, e hoje com a possibilidade de fazer real diferente no cenário ambiental envolvido nessas construções. 
 
Conte-nos sobre como é a experiência de trabalhar num complexo eólico. 
Trabalhar em um complexo eólico é entender que você faz parte de um mecanismo gigante, que envolve milhares de pessoas, incluindo comunidade local, políticos, empreendedores, grandes empresas consumidoras de energia, órgãos ambientais e centenas de colaboradores. Ou seja, você faz se sente como parte de uma engrenagem gigante que trabalha em suas diversas áreas mais focadas em um mesmo objetivo: ampliar a capacidade de gerar energia renovável na nossa matriz energética. Tudo isso faz com que seja uma experiência muito enriquecedora e desafiadora, onde nenhum dia é igual ao outro, tudo é sempre muito dinâmico e uma coisa que qualquer funcionário de complexo eólico vai poder afirmar é que nunca ficamos entediados, todo dia é uma novidade. Claro que também não são só felicidades, alguns processos são mais difíceis que outros e muitas vezes cobram muito do biólogo, muito tempo, muita dedicação, muito esforço, mas isso é recompensado quando nos entendemos como agentes reguladores entre a construção e a preservação, literalmente atuando como mediador da produção e da conservação, fazendo com que os objetivos da obra sejam atingidos sem ferir as condicionantes ambientais.
Como chegou ao campo de consultoria ambiental?
Desde a época de graduação sempre tive como foco entrar na consultoria, sempre me pareceu uma forma mágica de ganhar dinheiro, ir a campo e fazer relatório de coisas que naturalmente eu faço por gostar, imagina que massa receber pra fazer algo que você gosta? Com isso, durante a faculdade mesmo, comecei a procurar empresas de consultoria e me oferecer para estagiar ou trabalhar como auxiliar de campo. Assim acabei conhecendo profissionais de todos os grupos taxonômicos, tendo oportunidade de ir a campo em várias expedições e com isso me apaixonar pela herpetologia. 
 
Quais biomas já conheceu ou tem vontade de conhecer com o trabalho de consultoria?
A consultoria ambiental nos permite viajar todo o país e conhecer muito do que estamos acostumados a ver apenas em revistas. Desde que iniciei minha jornada profissional tive oportunidade de conhecer diversos biomas sendo eles: Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Pantanal, Caatinga e Cerrado. Entretanto, ainda existem diversos outros que almejo conhecer, atualmente estou tentando trabalhos no sul do país a fim de conhecer o Pampa. A diversidade encontrada neste bioma único me fascina desde a escola, então hoje como profissional busco realizar esse velho sonho.
Quais os maiores desafios já enfrentados no decorrer da sua trajetória como biólogo?
Iniciar na carreira após a formatura foi um sacrifício tremendo, acredito que até hoje foi o maior desafio, pois nesse ponto onde você se encontra verde no mercado, com poucos contatos e sem ninguém para te indicar pra nada, além de possíveis dívidas adquiridas no processo de formação. É um momento difícil, precisa de muita paciência e controle emocional para construir o caminho até tão sonhada primeira oportunidade como Biólogo. Quanto a isso, deixo também uma dica para quem estiver nessa situação: use e abuse das ferramentas profissionais para divulgar seu currículo e seus conhecimentos, bem como estar antenado as oportunidades do mercado. 
 
Conte-nos sobre um caso marcante com resgate de fauna.
Acho que todo profissional de biologia tem um animal em sua lista de desejos de encontros em campo. Comigo sempre foi a vontade de encontrar as grandes serpentes brasileiras, recentemente durante um campo em Lajes do Cabugi, no Rio Grande do Norte, tive a oportunidade de resgatar uma Boa constrictor (uma jiboia) de quase 4 metros um dos resgates que mais me emocionou pois envolveu, além dos profissionais de biologia a equipe de supressão vegetal como um todo, todos em prol do resgate e transporte em segurança do animal para uma área segura. Ao final do resgate fizemos uma conversa geral com a equipe e foi incrível ver pessoas que normalmente matavam esses animais por medo, mudarem sua forma de pensar e falarem com admiração do animal "gigante" que haviam ajudado a resgatar. Esse tipo de situação onde você consegue mudar nem que seja um pouco a forma de pensar da equipe sempre me emociona. 
Natu 29 • 12/08/2022 • Arara-canindé (Ara ararauna) • Redação • Direção: Nathália Araújo; Conteúdo: Amanda Costa; Nayra Gualberto; Rodrigo Viana; Thayane Silva; Fotografias: Aziz Militão, Arickson Wesley, Emanuel Messias, Paula Barreto.

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