Natu 28


Espécie • Veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus
O veado-campeiro é um cervídeo de porte médio, pelagem tipicamente caracterizada de cores parda clara - variando de cinza claro a castanho avermelhado, pelagem branca no ventre, interior das orelhas, lábios, ao redor dos olhos e abaixo da cauda. Os machos podem chegar até 40kg e possuem galhadas de três pontas sendo uma delas mais curta e apontada para frente e duas mais longas. As fêmeas podem chegar até 35 kg e possuem menor porte comparadas aos machos, elas apresentam duas linhas de manchas brancas no dorso que permanecem até no máximo 2 meses. Possuem alimentação de consumo sazonal de brotos e folhas novas de herbáceas, 80% de sua alimentação é composta por gramíneas e são classificados como predadores seletivos por escolherem folhas e brotos novos de arbustos e flores de plantas. O ciclo reprodutivo é sazonal e acompanhado do crescimento anual dos chifres, de influência hormonal. A gestação dura aproximadamente 7 meses e nasce apenas um filhote. A fêmea mantém as atividades normais até o 5 mês de gestação, após esse período ela procura lugar para descanso e proteção do filhote. De acordo com a União Internacional Para Conservação da Natureza – IUCN (2016), a espécie está quase ameaçada, mesmo sendo uma espécie amplamente distribuída na América do Sul, ocupando ambiente abertos como os pampas argentinos e o Cerrado brasileiro, além da Argentina, Uruguai, Paraguai e Sul da Bolívia.



Na trilha • Qual é a quantidade ideal de consumo de água nas atividades de trekking? 
Tão importante quanto praticar atividade física ou fazer uma simples atividade de caminhada em contato direto com a natureza, é saber como se manter hidratado e a quantidade adequada de água que se deve levar. É normal escutar que devemos consumir cerca de 2 litros de água por dia, no entanto, essa informação vai variar de acordo com cada organismo e o cálculo é feito por quantidade de peso de cada pessoa. Em se tratando de atividades ao ar livre, onde se leva em consideração fatores como umidade do ar, exposição ao sol, intensidade do exercício, etc., esse valor deve aumentar. Alguns estudos revelam que cerca de 35 ml servem para manutenção de cada kg corporal, ou seja, uma pessoa de 65 kg precisa de cerca de 2,275 litros de água para se manter hidratado. Já ao ar livre essa quantidade pode aumentar, de acordo com a necessidade do organismo. Também é importante se hidratar antes do início da atividade e isso pode ser feito com o consumo de frutas como abacaxi, laranja, mamão, melancia, sucos naturais, etc. 
Água é vida, siga as instruções, hidrate-se e boa trilha!
Entrevista • Saúde Única: ambiental, animal e humana por Elizabete Lourenço 
Doutora em Ciências na área de Parasitologia pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias (UFRRJ). Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-graduação em Biologia Animal (UFRRJ). Formada em licenciatura em Ciências Biológicas e bacharel em Ecologia pela UFRRJ. Atualmente vinculada ao Laboratório de Ecologia de Mamíferos da UERJ (lemauerj.wixsite.com/lema) como bolsista de pós-doutorado sênior FAPERJ com o projeto “A saúde ambiental influenciando a saúde dos morcegos - uma abordagem integrativa entre ecologia e saúde única" e também vinculada ao Departamento De Ciëncias Da Natureza do Instituto De Aplicação Fernando Rodrigues Da Silveira como professora substituta. Coordenadora adjunta do Projeto Morcegos na Praça (UFRRJ), projeto de extensão baseado na educação ambiental e divulgação científica para a conservação dos morcegos desde 2013 (http://morcegosnapraca.ufrrj.br/site/www.facebook.com/projetomorcegosnapraca). Atuo nas áreas de mastozoologia, artropodologia, ecologia parasitária, educação ambiental e divulgação científica. Membro da Sociedade Brasileira para o Estudo de Quirópteros. 

A biologia sempre foi sua primeira opção de curso?
Não. A maioria dos biólogos que conheço, e que em algum momento já conversei sobre isso, relatam que sempre gostaram da natureza, dos animais e que desde sempre se identificaram com a biologia.  No meu caso, eu nunca tinha pensado muito a respeito de fazer graduação, ou que profissão gostaria de ter. Somente no meu terceiro ano do ensino médio, resolvi, não sei exatamente o porquê, que queria entrar na faculdade. Na minha família, ninguém tinha feito ensino superior, meus pais tiveram só o ensino básico e nunca foi uma cobrança, ou mesmo uma sugestão. Ainda com 15 anos comecei a trabalhar num consultório de fisioterapia e meu primeiro vestibular foi para fisioterapia, mas nem todas as universidades públicas tinham esse curso. Então, para algumas universidades fiz o vestibular para ciências biológicas, que era algo que comecei a apreciar com os estudos do pré-vestibular, e pesquisando mais um pouco sobre a área, fiquei fascinada com as possibilidades. Nem sempre encontramos nossa vocação ainda quando crianças. A época do vestibular é complicada, por termos que escolher algo que será nossa profissão, e que ficaremos por um longo período nos aperfeiçoando para depois exercer a profissão. É importante, pensar nas possibilidades, e descobrir o caminho e a cada passo se afirmando, embora, às vezes seja preciso parar e até retroceder para enxergar melhor as possibilidades. Hoje a biologia, a ciência e a docência são minha realidade, e minha primeira opção profissional.

Fale-nos um pouco sobre a importância do estudo da ecologia parasitária.
Eu adoro essa linha de pesquisa! Com ela juntamos os conceitos básicos de ecologia e da parasitologia em prol da saúde ambiental e humana. Eu sempre costumo lembrar que a parasitologia é parte da ecologia e tento trabalhar a parasitologia como uma parte da ecologia, em uma visão ampla e dinâmica. A ecologia parasitária busca entender a relação do parasito e seus hospedeiros e como essa relação interage com o ambiente. Nesse caso, os fatores ambientais, clima e tipo de ambiente, por exemplo, poderão afetar tanto o parasito, como o hospedeiro, e de forma sinergética essa relação. Para dar um exemplo, a ecologia parasitária estudará o efeito do desmatamento nas populações de parasitos e como isso afetará a dinâmica de sua relação com os seus hospedeiros, inclusive estudando a possibilidade do ser humano servir como hospedeiro. Isso demonstra a importância desse ramo não só para o equilíbrio dos ecossistemas, mas também para a saúde humana.
 
A saúde ambiental tem influenciado na saúde dos morcegos a que ponto?
Essa é a minha pesquisa. É o que quero entender. Temos evidências científicas que o ambiente pode influenciar na ocorrência dos morcegos, nos tipos e números de abrigos, na área de forrageamento (busca por alimento) e nas relações interespecíficas entre morcegos e os parasitos. Acredito que áreas com maior interferência humana, urbanização por exemplo, pode aumentar o nível de estresse dos morcegos e isso pode diminuir a imunidade deles. A interferência humana, também pode aumentar a probabilidade de encontro entre espécies de morcegos em abrigos e assim aumentar suscetibilidade a transmissão de parasitos. Quando me refiro a parasitos, incluo artrópodes, protozoários, bactérias, vírus e fungos. Essas modificações além de influenciar na saúde dos morcegos, pode influenciar no papel ecossistêmico que eles desempenham, causando uma cascata de ações prejudiciais não só às populações de morcegos, mas também ao ecossistema como um todo.
Existe algum projeto de educação ambiental ligado à introdução de saúde única para comunidade local?
Sim, existem algumas iniciativas. O próprio Projeto Morcegos na Praça que eu coordeno, atua nessa área. Acredito que os projetos de educação ambiental têm atuado cada vez mais na educação para a saúde única e assim na sua implementação. Mesmo que esses projetos não use o termo saúde única, os conceitos de integração estão lá. A educação ambiental e suas premissas da educação holística, que considera o todo, e nos faz (enquanto ser humano) (inter)conectados com esse todo pode atuar nessa relação saúde ambiental, saúde animal e saúde humana. Educação ambiental é educar para que a população humana entenda que suas ações, comportamentos e atitudes possam atuar como fatores de risco ou proteção contra infecções e que a atuação direta ou indireta no ambiente poderá influenciar sua saúde, e isso também é introdução para a saúde única.

Conte-nos um pouco como foi o projeto: Levantamento da mastofauna terrestre do Monumento Natural do Arquipélago das Ilhas Cagarras.
Esse projeto foi incrível! Primeiramente pelo pioneirismo. Pensar que uma Unidade de Conservação tão conhecida dos cariocas não tinha um levantamento da sua fauna de mamíferos, me faz olhar para as áreas ao nosso redor e perceber que não sabemos muito da nossa biodiversidade. Por outro lado, o projeto surgiu da necessidade de levantar dados sobre a fauna exótica de uma das ilhas do arquipélago, a Ilha Comprida. Pesquisadores que trabalhavam na ilha e funcionários do ICMBio confirmaram a presença de ratazanas e coelhos europeu. O que levou a chefe da Unidade de Conservação, Tatiana Ribeiro, procurar o Laboratório de Ecologia de Mamíferos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde atuo, para realizar o projeto de Levantamento da Mastofauna Terrestre. Assim, com a implementação do projeto, confirmamos a presença de ratazanas, Rattus norvegicus, na Ilha Comprida, uma espécie exótica e invasora. Não encontramos coelhos, nem rastros desse animal, o que pode indicar que coelhos não estejam mais presentes na ilha. No entanto, o próximo passo é implantar o monitoramento na ilha, e o projeto de estimativa populacional das ratazanas e controle desses animais. Além da ocorrência de ratazana na Ilha Comprida, registramos a presença de algumas espécies de morcegos no arquipélago, inclusive com o encontro de abrigo de uma espécie de morcego carnívora, Tonatia bidens, que é abundante na Ilha de Palmas e Ilha Redonda. Recentemente, participei, ainda, de uma expedição inédita para o Cume da Ilha Redonda, onde registramos também a espécie. 
 
CBC Auxilia na Busca por Mamíferos Exóticos no Mona Cagarras
 
Levantamento da mastofauna terrestre do Monumento Natural do Arquipélago das
Ilhas Cagarras – em busca das espécies nativas e exóticas
 
Pesquisadores registram morcegos pela primeira vez na Ilha Redonda, nas Cagarras
A conservação faz parte da motivação no projeto em integrar pesquisas e instituições à Mata Atlântica? 
Sim!! A conservação é sempre um dos nossos objetivos como cientistas. Às vezes isso não fica tão claro nos projetos. Acredito no jargão “Conhecer para preservar”. O conhecimento pode gerar afeição, por isso sempre menciono os morcegos, buscando desmistificar e tentar desassociar a imagem deles com criaturas, perversas, de mau-agouro, sujas, que transmitem doenças... Integrar diversas pesquisas, cientistas e suas instituições além da sociedade gera conhecimento mais profundo, com menos vieses, e preconceitos. E, é a sociedade que ganha. A ciência ganha com uma melhor qualidade dos nossos produtos, a sociedade, e mesmo aqueles que não sabem desses produtos, ganham. O progresso da ciência depende dessa integração, dos tomadores de decisões (políticos e gestores como um todo), dos cientistas, dos professores, jornalistas, divulgadores científicos... 

Qual o maior desafio que você encontra hoje, diante da era da divulgação científica?
Os desafios na ciência, sempre são muitos! Principalmente fazer ciência no Brasil, com os recentes cortes de verbas, e “ataques” às instituições de ensino superior. O cientista da universidade precisa desempenhar muitos papéis, além das pesquisas e docência, há ainda muitas atividades administrativas e a extensão acaba ficando em segundo plano. A extensão é a parte da universidade que interage com a sociedade. Quando comecei a trabalhar com divulgação científica tínhamos muitos desafios, primeiramente o reconhecimento da divulgação científica como parte da carreira do cientista, seja pelos próprios cientistas, seja pelos órgãos de fomento. Atualmente, percebo a mudança na aceitação da divulgação científica como parte importante da ciência. De modo geral, acredito que a nossa ciência (feita aqui no Brasil, mas não é algo restrito ao país), está cada vez mais associada com o social, preocupada com o papel da ciência na sociedade, bem como o papel de seus cientistas. Acredito que cada vez mais a ciência irá “conversar” com a sociedade.
O que faz um Membro da Sociedade Brasileira para o Estudo de Quirópteros?
A SBEQ, Sociedade Brasileira para o Estudo de Quirópteros, é uma organização que representa os pesquisadores que trabalham com morcegos. Como membros, fortalecemos a sociedade que nos representa. Essa representação pode ser feita na emissão de laudos ou notas técnicas por parte da SBEQ em relação a algum caso que os morcegos possam estar sendo associados. No início da pandemia da COVID-19, a SBEQ sugeriu o cancelamento de captura de morcegos, por conta que nós pesquisadores, poderíamos contaminar os morcegos com o vírus SARS-CoV-2. Logo depois liberou uma nota técnica com os protocolos de segurança para o manuseio dos quirópteros. O interessante é notar que a preocupação da SBEQ, e de todos nós enquanto pesquisadores, era de nós, seres humanos, contaminar os nossos morcegos, morcegos do Brasil, e não o contrário. Ser membro dessa sociedade é um orgulho, pois estamos atuando, todos juntos, para a conservação e geração de conhecimento a respeito dos nossos morcegos. O fortalecimento dessa Sociedade é também o fortalecimento da busca por essa conservação, atuando para que cavernas, conhecidas como grandes refúgios naturais de milhares de morcegos, não sejam destruídas, ou atuando junto com os órgãos fiscalizadores para minimizar os impactos de grandes empreendimentos como mineradoras ou usinas eólicas, que causam grande mortandade nos morcegos.

Natu 28 • 14/07/2022 • Veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) • Redação • Direção: Nathália Araújo; Conteúdo: Amanda Costa, Nayra Gualberto, Rodrigo Viana, Thayane Silva; Contribuição: Jéssica Gomes; Fotografias: Giovana Martins, Elizabete Lourenço, Paulo Vitor, Vinícius Coelho.

   Apoie   

Comentários

Leia também