Natu 25

Espécie • Mandacaru (Cereus jamacaru
O mandacaru é uma planta arbustiva pertencente à família botânica Cactaceae. Esse famoso cacto é nativo do Brasil, mencionado na letra da música do Luiz Gonzaga: “Mandacaru quando fulora na seca, é um sinal que a chuva chega no sertão”. Como já diz a música, ele floresce na época da chuva (primavera), sendo típico do bioma Caatinga. Também é conhecido por cardeiro e pode chegar a 6 metros de altura. Possui belas flores brancas que desabrocham durante a noite e murcham ao amanhecer. Essas flores podem medir cerca de 12 centímetros e atraem abelhas. Seus frutos também são grandes e podem medir até 12 centímetros de comprimento, com polpa branca e sementes pretas bem pequenas. O mandacaru é uma planta de clima árido e semiárido. A planta dispõe de potencial para recuperação de solos degradados e por ser suculenta ajuda a saciar a sede e fome dos animais no sertão. É cultivada em pleno sol e gosta de solos argilosos, cascalho fino e bem drenados, quando pode ser feito por estaquia ou por semente ㅡ plantada e/ou por dispersão zoocórica (animais, especialmente as aves) e anemocoria (vento). 


Na trilha • Manejo Integrado do Fogo: significado e importância  
Incêndios florestais, naturais ou antrópicos, são um verdadeiro desafio para conservação da biodiversidade. Falar do fogo em um contexto amplo em dimensões ecológicas, sociais, econômicas e culturais, é falar do Manejo Integrado do Fogo (MIF). E o que isso significa? Em geral, é feito em três etapas: planejamento, implementação e após o período de maior incidência de incêndios vem a etapa de avaliações. É o uso de queimadas controladas no período da seca com a criação de aceiros estratégicos, a fim de reduzir e fragmentar a biomassa das florestas. Logo, com a liberação desse excesso de combustível, ajuda na prevenção e redução de incêndios maiores, facilita no controle e monitoramento de queimadas, garante a conservação da natureza e uso sustentável do ecossistema. 
Entrevista • Biologia: uma paixão desde criança por Geraldo Freire
Pós-doutorando no Programa "Ecology, Evolution and Conservation Biology - EECB", University of Nevada, Reno-USA, sob a supervisão do Dr. Lee A. Dyer. Doutor em Ecologia pela Universidade de Brasília (2015), tem se especializado em estudos sobre diversidade ecológica, interação inseto-planta, com ênfase nos mecanismos estruturadores da guilda de borboletas frugívoras (Lepidoptera: Nymphalidae) nas dimensões espacial e temporal do Cerrado. Mestre em Biologia Animal pela Universidade de Brasília (2010).

Ciências biológicas sempre foi a sua primeira opção de curso? Quando entrou no curso o que mais te encantou?
Sim, sempre tive como certo cursar ciências biológicas dada a minha paixão, desde criança, por animais e pelo meio ambiente. A partir do início da graduação fui conhecendo mais sobre o Cerrado e a sua rica biodiversidade, desde então sou fascinado por isso. Durante a graduação quis trabalhar com morcegos e cheguei a estagiar com uma excelente pesquisadora desse grupo taxonômico (Dra Daniela Coelho - UnB.) mas fui me aprofundando nos estudos dos insetos. No doutorado conheci a guilda de borboletas da família Nymphalidae, as borboletas frugívoras, e desde então sou encantado pela beleza e funcionalidade dessas espécies.

Quais são suas experiências e qual foi a mais desafiadora?
Assim como grande parte dos estudantes de biologia fui me aventurando em diversas áreas como no estudo de organismos cavernícolas, corujas e aranhas, sempre sob o ponto de vista ecológico. Um desafio que foi bem marcante foi participar de uma expedição de campo por 45 dias consecutivos no ecótono (transição) Cerrado-Amazônia. Como todos os grandes desafios trazem grandes aprendizados, nessa ocasião aprendi metodologias de coleta de diversos grupos animais, conheci e aprofundei relações com colegas de profissão e aumentei ainda mais a minha admiração pelos pesquisadores (Doutores Guarino R. Colli e Reuber Brandão) que supervisionaram essa expedição. Outro grande desafio foi participar de expedições de campo nos Estados Unidos, organizadas pelo Instituto Earthwatch e supervisionada pelo meu mentor, o Dr. Lee Dyer. Essas expedições eram voltadas para coleta de dados de interações tri-tróficas (plantas-herbívoros-parasitóides) realizadas por professores e estudantes norte-americanos".

Diga-nos sobre sua experiência do doutorado sanduíche em Nevada e o quanto isso refletiu em sua formação.
Me sinto privilegiado em ter feito parte deste programa de intercâmbio acadêmico financiado pelo governo brasileiro. Para mim, essa oportunidade permitiu conhecer outra cultura, expandir meus conhecimentos sobre ecologia em outras regiões além da Neotropical, além  de aumentar minha rede de colaborações com pesquisadores e instituições norte-americanas. Esse primeiro contato no exterior resultou na minha atual posição como pós-doutorando no Programa Ecology, Evolution and Conservation Biology da University of Nevada - Reno, o mesmo que fiz o meu doutorado sanduíche.
Sempre quis trabalhar no campo ou já pensou em seguir a área de laboratório?
Sim, sempre quis trabalhar no campo. Acho as experiências vivenciadas no campo sempre muito ricas, são diferentes situações vivenciadas pelas pessoas envolvidas no trabalho, conversas sobre ecologia e coisas cotidianas, piadas que ajudam a deixar o trabalho menos pesado e sempre trazendo muito aprendizado sobre a vida. Lembro muito bem que durante o doutorado, tinha um roteiro muito bem organizado para que, no último dia de campo, aquele mais intenso e debaixo do sol quente do Cerrado, não faltasse uma entrada na cachoeira. Melhor coisa!!! Ai que saudade!! rsrs.

Teve muitos desafios por querer seguir a área acadêmica? Qual foi o maior desafio na área acadêmica?
Sim, infelizmente a situação não está nada fácil para os pesquisadores no Brasil. Os cortes no orçamento destinado à pesquisa, o sucateamento das universidades federais e ainda o negacionismo que assola uma parte da sociedade são desafios a serem superados. Lembro-me muito bem que, recentemente, escrevi um projeto de pesquisa com mérito bastante reconhecido pelos avaliadores mas que, infelizmente, não foi financiado por falta de recursos. Isso é muito frustrante. Meu conselho para os mais jovens é que mantenham a cabeça erguida e tenham fé que sempre arrumaremos um jeito de superar essas adversidades.
Como é ser professor e tentar passar conhecimento nos dias atuais?
Com base na minha experiência, me parece que existem universidades onde há uma certa pressão, por vezes discreta, da direção para a aprovação do estudante, independente do esforço do mesmo em obter sua aprovação. Em contrapartida, em outras que trabalhei, percebi maior autonomia do professor e empenho dos estudantes. Nas disciplinas que atuei nessas universidades, percebi que tais fatores resultaram em debates mais ricos, maior participação e responsabilização dos estudantes no processo de ensino-aprendizagem.

Como é estudar um grupo específico de insetos?
Cerca de 40% da biodiversidade do planeta é composta por insetos. Por serem abundantes e apresentarem respostas rápidas a mudanças climáticas e na estrutura do ambiente, os insetos são considerados excelentes modelos para estudo dos efeitos das mudanças climáticas e desmatamento sobre a biodiversidade. Além de todos esses atributos, as borboletas frugívoras são belas, carismáticas e de fácil captura, sendo uma importante ferramenta para o ensino de ecologia, educação ambiental e conscientização da sociedade para temas relevantes à conservação do meio ambiente.

Porque borboletas frugívoras?
No final do mestrado, sabia que queria aprofundar meus conhecimentos como entomólogo mas ainda não fazia ideia sobre qual grupo em específico. Após conversar com minha orientadora (Dra Ivone R. Diniz), ela mencionou que havia uma importante questão sobre estratificação vertical ainda não respondida para a guilda das borboletas frugívoras (Nymphalidae). Foi aí que tudo começou. Logo no primeiro contato, ainda sem ir ao campo, descobri a beleza e a funcionalidade dessas borboletas em responder questões práticas sobre ecológica, evolução e monitoramento da biodiversidade. Já no campo, foi paixão à primeira vista.
Qual é o maior desafio da ciência e da educação hoje?
Embora eu ame a docência, os desafios são bastante similares àqueles encontrados por pesquisadores: a falta de valorização profissional e o negacionismo de parte da sociedade para temas relacionados à ciência. Hoje sinto que algumas pessoas perderam a vergonha em discutir assuntos diversos mas sem nenhuma base teórica/prática que sustentem seus pontos de vista. A discussão com base em evidências é fundamental para a construção do conhecimento, e é um importante desafio  a ser implementado, Juntos, pesquisadores, professores e toda a sociedade, devemos pensar em estratégias para fortalecimento de uma sociedade crítica mas com base em evidências, na realidade.

Conte alguma das suas experiências mais legais que teve no campo?
Trabalhar na Amazônia é um sonho para muitos biólogos. Logo nos primeiros anos que estudei as borboletas frugívoras, fui contratado para realizar uma expedição de campo no interior do Pará. O plano era chegar à tarde, ir para o hotel, organizar todo material de campo e, no outro dia pela manhã, instalar as armadilhas de borboletas. Bom, esse foi somente o plano por que eu não me contive ao ver a exuberância da Floresta Amazônica e acabei indo para o campo e instalando as armadilhas assim que cheguei na cidade. Os dias seguintes foram ainda mais fantásticos pois coletei uma grande variedade de espécies, com padrões e cores totalmente diferentes daquelas que observava no Cerrado. A proporção das árvores, o calor e a umidade da Floresta Amazônica é realmente impressionante, sentimos a floresta viva e pulsante. Outra experiência bem legal foi a primeira vez que entrei em uma caverna para estudar a biodiversidade em seu interior. No primeiro momento, fiquei com um certo medo de como seria adentrar aquelas galerias com baixa circulação de ar e muito escuras, mas foi uma experiência marcante. Ficava encantado em ver cada formação geológica, as galerias, os corpos d’água que nos fazia perder a referência de tempo quando estávamos trabalhando no  interior das cavernas.
  
Natu 25 • 12/04/2022 • Mandacaru (Cereus jamacaru• Redação • Direção: Nathália Araújo; Conteúdo: Amanda Costa, Rodrigo Viana, Thayane Silva; Fotografias: Paula Barreto, Geraldo Freire, Pedro Rodrigues - Acervo Ecology Bio, Luis Felipe Carvalho.

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