Natu 20


Espécie • Seriema (Cariama cristata
Conhecida por seriema ou siriema-de-pé-vermelho, essa charmosa ave de bico e patas vermelhas, é ave símbolo do Cerrado e do Estado de Minas Gerais. 
Características gerais: Seu nome vem do tupi “çaria” (= crista) + “am” (= levantada). A seriema pode chegar a 90 cm de comprimento e pesar pouco mais de 1,3kg. Possui cauda longa e um conjunto de penas cinza-amarelada com pequenos traços mais escuros. O porte de indivíduos jovens e adultos geralmente é o mesmo, portanto, uma das melhores maneiras para diferenciá-los é pela verificação da cor dos olhos. Jovens possuem olhos amarelados e adultos olhos cinzas. Sua vocalização é marcante e inesquecível, podendo durar por minutos e ser ouvido a cerca de 1 km. Segundo a União Internacional Para a Conservação da Natureza - IUCN (2016) a população de seriemas é estável e encontra-se na lista de espécies de menor preocupação, em relação à extinção. Habitat: Ocorre principalmente na região Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul. Gosta de Cerrados, Campos Sujos e Pastagens. É uma ave pernalta campestre, prefere andar pelo chão e quando é perseguida foge correndo. Com suas elegantes patas vermelhas pode alcançar uma velocidade aproximada de 50 km/h. Alimentação: Comem desde insetos a pequenos vertebrados como roedores, répteis e anfíbios, ovos, vermes e alguns frutos. Reprodução: Fazem ninhos há poucos metros do chão, colocam de 2 a 3 ovos que são incubados por cerca de 24 a 30 dias. Os filhotes abandonam o ninho com os pais, com aproximadamente três semanas após o nascimento. As principais ameaças à espécie, são a caça e fragmentação de habitat. 





Na trilha • Natureza: o que fazer para se proteger dos raios?
Em tempos chuvosos, não somente no campo mas em qualquer lugar que esteja, é necessário ter cuidado com as descargas elétricas. Raios podem ser perigosos e por mais que as chances de um raio atingir uma pessoa seja por cerca de 1 para 1 milhão, ainda pode acontecer. Entretanto, especialistas dizem que a maioria das mortes ou ferimentos causados por esse tipo de acidente, resultam de incidências indiretas. As correntes elétricas podem causar queimaduras, danos ao coração, pulmões, outras partes do corpo humano e até óbito. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, no Brasil é estimado que cerca de 130 pessoas morrem por ano atingidas por raios e cerca de 500 ficam feridas. Para evitar esse tipo de acidente, procure imediatamente um abrigo seguro como carros, ônibus, residências, barcos fechados, túneis, metrôs, vales, etc. Evite celeiros, tendas, veículos sem capota, estacionar ou esconder-se embaixo de árvores, topo de prédios, montanhas, linhas de energia elétrica, campos abertos, etc. Se estiver na natureza ou em locais sem abrigo próximo e sentir seus pelos arrepiados ou a pele coçar, pode ser indícios de que um raio esteja prestes a cair, portanto, ajoelhe-se e se curve para frente colocando as mãos nos joelhos e a cabeça entre eles. Essa posição é chamada de fetal, sendo a mais indicada para esse tipo de situação. Jamais deite no chão. Para mais informações, acesse: www.cea.inpe.br/elat

Entrevista • Ariranhas, Ecologia e Conservação por Caroline Leuchtenberger 
Graduada em Biologia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e doutora em Ciências Biológicas (Ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Desde 2013 é coordenadora brasileira de ariranhas do Grupo de Especialistas em Lontras da IUCN. Criadora e coordenadora do Projeto Ariranhas é também pesquisadora colaboradora no laboratório de Vida Selvagem da Embrapa Pantanal e do laboratório de Bioacústica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professora do Instituto Federal Farroupilha, atua na área de Ecologia, com ênfase em Ecologia e Conservação.



Conta um pouco para a gente como funciona o Projeto Ariranha. Qual é o principal objetivo?
Desde 2006 venho estudando a espécie e desde 2013 sou coordenadora da espécie no Grupo de Especialistas em Lontras, planejamento ações de conservação. No entanto, isso não parecia suficiente, era necessário colocar as ações em prática. Por isso, em 2019 criei o Projeto Ariranhas com o objetivo de viabilizar e fortalecer a conservação da espécie, promovendo também o engajamento da comunidade.

O que fez você se interessar por essa espécie?
A primeira vez que eu vi uma ariranha foi em 1998 no Rio Miranda, Pantanal Sul, durante uma viagem de família. Foi um avistamento breve, mas que me intrigou, pois eu não sabia nada a respeito daquele animal. Em 2006 quando ingressei no Programa de Mestrado em Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, meu orientador me perguntou se eu teria interesse em estudar a espécie. Aceitei na hora. E desde então não parei mais. Ariranhas são sociais e têm um comportamento fascinante e muito complexo, o que me instiga cada vez mais a querer ir além. Além disso, há muito preconceito e desinformação sobre a espécie. Tenho certeza de que qualquer pessoa que tiver a oportunidade de observar e conhecer mais sobre a espécie ficará encantado. Por isso, vejo que ainda há muito o que fazer pela espécie.

Como vivemos um período crítico com relação a preservação do Pantanal. Quais são os principais obstáculos atuais para a conservação das ariranhas?  
Hoje vivemos um momento de mudanças climáticas e ambientais no Mundo todo, e no Pantanal essas mudanças têm sido bem evidentes. A falta de chuva e a, consequente, intensidade da seca tem promovido um cenário bem preocupante, que parece afetar a reprodução e a sobrevivência de algumas populações de ariranhas. Além disso, a espécie ainda carrega consigo uma imagem negativa, o que pode ser um gatilho para conflitos humanos com ariranhas. O turismo de vida selvagem vem crescendo no Pantanal, mas parece que a capacitação de profissionais e o planejamento dessas atividades não acompanham esse ritmo. Assim, ações de turismo mal manejado acabam ameaçando a espécie. Por isso, entendo que o grande desafio para conservar ariranhas é melhorar a coexistência humana com a espécie, o que pode acontecer através de programas educativos e estratégias que melhorem o engajamento das comunidades locais nas ações de conservação, e o turismo bem manejado pode ser um caminho.

Atualmente, atuar na área de Ecologia com certeza é um grande desafio. O que te motiva a continuar mesmo diante de todas as adversidades?
A Conservação é uma área que usa diversos conhecimentos, desde biologia, ecologia, ciências sociais, econômicas, entre outras, para tentar mitigar os impactos humanos sobre a biodiversidade. Desde a ancestralidade nossa espécie vem usando a biodiversidade como um recurso. O crescimento acelerado das populações humanas tem agravado ainda mais essa relação utilitária e promovido um cenário catastrófico.
Estamos promovendo mudanças no clima do nosso Planeta, dizimando espécies, e promovendo a proliferação de doenças, como o caso da Covid19, o que acaba afetando a nossa própria espécie. Por isso, poder contribuir para reverter esse cenário parece um bom propósito de vida para mim. E escolhi a ariranha como bandeira das minhas ações de conservação. Ver as pessoas mudando o seu comportamento em relação à espécie, graças às nossas ações, é gratificante e me motiva a continuar.



Como se deu o seu interesse na Biologia? Era um sonho desde a infância?
Acho que o amor pela biologia sempre esteve dentro de mim. Eu cresci numa cidade bem pequena no interior do Rio Grande do Sul. Minhas brincadeiras preferidas sempre foram aquelas em que eu podia estar em contato com a natureza, desvendando novas trilhas no mato, subindo em árvore, ou brincando de casinha na beira do rio. E até hoje, busco na natureza o meu equilíbrio e a minha energia vital. Com certeza não me vejo em outra profissão.

Visto que você tem experiência em iniciativas internacionais voltadas à conservação, como o CLT (Conservation Land Trust) e a IUCN  (International Union for Conservation of Nature), como você percebe a visão de profissionais ao redor do mundo com relação à proteção da biodiversidade no Brasil?
O Brasil tem um importante papel na conservação da biodiversidade mundial. Cerca de 23% das espécies de peixes do Mundo estão em rios brasileiros, 16% das espécies de
aves, 12% de mamíferos e 15% das demais espécies de plantas e animais. Ou seja, somos um “país rico por natureza” sim, mas não estamos cuidando bem dela. Perdemos muitas colaborações importantes, que promoviam a conservação da nossa biodiversidade, devido a questões políticas. Isso enfraqueceu ações importantes de fiscalização de crimes ambientais, de estudos científicos e de ações práticas de conservação, em especial na Amazônia. E os órgãos mundiais responsáveis pela conservação da biodiversidade estão alertas.

Qual conselho você daria para os estudantes que pretendem se especializar e trabalhar no âmbito de Ecologia e Conservação?
Eu diria que a ciência e o Planeta carecem de profissionais atuantes na área de Ecologia e Conservação. Claro que toda a escolha deve ser feita com o coração e seguindo o propósito individual de cada um. Mas entendo que dedicar a vida à gerar conhecimento e ações para conservar uma espécie, um ecossistema ou ainda em melhorar a relação humana com os demais seres vivos e a natureza, pode ser um propósito muito especial. Temos muitos profissionais que atuam na área de ecologia, mas poucos que efetivamente aplicam o conhecimento gerado para resolver problemas ambientais, para conservar. Além disso, é importante ter em mente que não se faz conservação protegendo a natureza do ser humano. Somos parte disso tudo, e precisamos aprender a coexistir com as demais espécies. Quando entendermos que a solução dos problemas que a nossa espécie está causando precisa ser resolvida por nós e envolvendo a nossa espécie, tudo ficará mais fácil. Mas claro que isso vai exigir de você muita dedicação, paciência e certeza de onde quer chegar.

Lab • Coleta e triagem de macroinvertebrados bentônicos - Insetos Aquáticos, guardiões das águas
O Cerrado, também conhecido como o berço das águas, abriga diversas nascentes que abastecem três grandes bacias hidrográficas do Brasil (Bacia do Tocantins/Araguaia, Bacia do São Francisco e Bacia do Paranoá), além de encontrar-se também parte de outras bacias como bacia Amazônica, Parnaíba, Atlântico Nordeste Ocidental, Atlântico Leste, Atlântico Nordeste Oriental e Bacia do Paraguai. Neste mundo aquático há uma ampla e variada riqueza biológica de organismos que compõem a fauna e a flora bentônica que vão desde organismos de pequenas dimensões como vírus, bactérias, fungos, algas até anfíbios, répteis, macroinvertebrados bentônicos e muitos outros. 

Os macroinvertebrados bentônicos são invertebrados que vivem aderidos no fundo de sistemas aquáticos, mas também podem estar presentes na superfície ou enterrados no sedimento e são representados por diferentes organismos como nematoides, moluscos, platelmintos e os insetos aquáticos. Os insetos aquáticos são animais que vivem parte do seu ciclo de vida dentro da água, sendo as ordens Ephemeroptera, Plecoptera, Trichoptera, Odonata e Diptera parte significativa da biomassa dos sistemas aquáticos. Os insetos aquáticos são utilizados como bioindicadores da qualidade da água, pois muitos grupos possuem diferentes níveis de sensibilidade ao meio, de modo que, grupos muito sensíveis a alterações da qualidade da água tendem a reduzir suas populações por suportar bem condições de baixa oxigenação da água e alta carga de matéria orgânica, sendo os mais sensíveis, os EPT (Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera). Nesse sentido, o monitoramento dos ambientes aquáticos por meio dos insetos aquáticos se mostrou de extrema importância, pois fornece informações sobre o nível de conservação dos corpos d'água e a possibilidade de avaliação de ações de conservação. 

Os monitoramentos dos corpos d’água por meio dos insetos aquáticos são realizados com autorização dos órgãos ambientais de cada estado e com o acompanhamento de diversos pesquisadores ligados a instituições de pesquisa. Em campo, são realizadas coletas com auxílio de redes surber, conforme o protocolo de amostragem escolhido pelos pesquisadores. A Rede ComCerrado disponibiliza um protocolo que consiste na medição em transecto no riacho, onde é realizado coleta dos macroinvertebrados a cada 10 metros, sentido jusante-montante, na margem e no meio do riacho. O material coletado, que contém parte do substrato aquático (seixos, cascalhos, folhas, etc) é armazenado em sacos e fixado em álcool.

Em laboratório, as amostras são lavadas sob água corrente, em peneiras com até 600 micrômetros de abertura de malha. Após a lavagem, as amostras são triadas sob caixa de luz, em bandejas transparentes. Todos os organismos encontrados são separados por ponto de coleta, data e local, contados e identificados até o menor nível taxonômico possível com auxílio de chaves de identificação e confirmação de outros pesquisadores. Após coletas e triagens, ocorrem análises estatísticas que nos permitem verificar as variações dos ambientes aquáticos e os níveis de qualidade dos sistemas aquáticos. O monitoramento é uma ferramenta essencial à sobrevivência humana e de outros ecossistemas. 

Hoje, há diferentes grupos que trabalham com o monitoramento de macroinvertebrados aquáticos. Dentre esses há o projeto ecológico de longa duração (PELD), financiado pelo CNPq e FAPs, que possui diferentes sítios pelo Brasil. E no Distrito Federal, o Grupo de Estudos de Ecossistemas Aquáticos vem participando de todas as fases do PELD, desde o ano de 2010. 


Nossos Resíduos • Poluentes aéreos
Desde a revolução industrial e o rápido processo de urbanização, a poluição atmosférica tem sido cada vez mais intensa e isso tem relevante impacto negativo sobre o meio ambiente e na saúde respiratória dos seres vivos. O aumento da queima de combustíveis fósseis veio com a demanda energética e para diversas finalidades industriais e automobilísticas, além da necessidade para outros fins, como manutenção e funcionamento das cidades. Hoje em dia, pelo menos metade da população mundial vive nas cidades e estão sujeitos a altos níveis de poluição. Além do sistema respiratório, parte das partículas inaladas caem na corrente sanguínea, atingindo a circulação sistêmica podendo causar diversos problemas em outros órgãos. Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS, a poluição atmosférica pode ser a responsável por cerca de 20 mil óbitos/ano. 
  
Natu 20 • 11/2021 • Seriema (Cariama cristata) • Redação • Direção: Nathália Araújo; Conteúdo: Amanda Costa; Rodrigo Viana; Nathália Coelho; Luciana Mendonça; Letícia Leite; Izabella Ferreira. Fotografias: April Kelly; Caroline Leuchtenberger; Isabela Nicoletti; Lujan Freitas. 

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